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150 Years of Popular Musical Theatre (2000)

Livro de Andrew Lamb
Yale UP 2000
BIBLIOTECA
  
Li opiniões contrastadas sobre 150 Years of Popular Musical Theatre, de Andrew Lamb, nomeadamente o grande espaço dado à opereta europeia, mas para mim foi uma leitura (do verão passado) altamente proveitosa. Foi a primeira abordagem de conjunto que li sobre o teatro musical, nas suas mais variadas formas ou géneros. Creio que o musical americano do século XX impõe-se sobre as outras formas, inclusive sobre a opereta francesa e a opereta vienense, e esse impacto contou com um meio poderoso de divulgação e amplificação: o cinema. Pois o cinema não se limitou a filmar ou a registar em película as grandes criações teatrais, mas também criou espetáculos cinematográficos com valor próprio a partir da arte do musical da Broadway. O livro começou por me surpreender quando deixa claro que a opereta foi uma criação original francesa, que logo foi exportada em língua francesa e através de versões na língua local onde foi apresentada. Um homem representou como nenhum outro esse género: Offenbach, alemão de nascimento mas francês até à medula. A opereta de Viena e a da Inglaterra (Gilbert & Sullivan) impuseram-se, sobretudo nos países onde surgiram. E há também a zarzuela em Espanha, um género que me interessa cada vez mais, mas que nunca sai de Espanha. Estas tradições locais nunca desapareceram mas também não tiveram evoluções significativas no século XX, se comparadas com o musical anglo-saxónico (os ingleses rivalizam com os americanos a partir dos anos 1960). O livro propõe assim uma narrativa escorreita, profusa em termos de informação factual mas pouca rica em análise das imensas obras de teatro popular musical, a maior parte das quais foram já esquecidas. O livro de Lamb protesta à sua maneira contra este esquecimento injusto. Leitura 2017 VC 4/5

Cole Porter The Definitive Biography (1998)

Livro de William McBrien
BIBLIOTECA

Richard Rodgers fez alguns dos musicais mais perfeitos, e as canções que hoje ouvimos dele são devedoras do contexto teatral em que foram criadas. Mas Cole Porter, que também produziu quase sempre para o teatro, viu as suas canções se emanciparem dessa origem e tornarem-se canções jazz e pop cantadas por imensos artistas que com frequência lhe têm dedicado songbooks. Cole Porter não tinha parceiros, era o autor absoluto, autor da música e das letras e também por essa razão os seus musicais não são tão memoráveis quanto os que Rodgers concebeu com os seus parceiros Hart e Hammerstein II. A grande exceção é evidentemente Kiss Me, Kate, obra-prima teatral de Cole Porter.  Porter nasceu em berço de ouro, teve educação universitária e desde os tempos de estudante mostrou vocação para o songwritting e para o espetáculo. Casou-se com uma milionária mais velha do que ele e o casal era um dos mais colunáveis da sociedade americana e europeia  dos anis 20, e dividia o seu tempo entre os dois continentes. Durante cerca de dez anos Porter escreveu musicais mas não teve êxito. Foi com o seu regresso definitivo aos EUA que começou o longo período (anos 30, 40 a 50) em que inundou os teatros e a rádio com dezenas de grandes canções. Porter teve uma vida dupla, pois foi casado sempre com a mesma mulher, mas manteve uma vida homossexual agitada e nada discreta. Hollywood nos anos 40 fez um biopic de Porter e claro, este não podia reconhecer-se naquela personagem (com os traços de Cary Grant) e história falsas, pois a parte mais profunda do seu ser era escamoteada. Paris, dezembr de 2017  5/5

Somewhere for Me - A Biography of Richard Rogers (2001)

Bloomsbury 2001
BIBLIOTECA

Meryle Secrest escreveu uma obra de referência sobre o grande compositor de musicais Richard Rodgers. A vida e a carreira de Rodgers coincidem com a grande época dos musicais americanos (dos anos 20 aos 60) e bastaria um dos seus dois grandes períodos criativos, o da parceria com Lorenz Hart e o da parceria com Oscar Hammerstein II, para ser considerado um dos maiores compositores de sempre. É maravilhoso seguir com pormenores a relação profissional e de amizade entre Rodgers e os seus dois companheiros e sobre o contexto de criação das obras que assinaram. Há um aspecto pouco explorado no livro que me deixou curioso. Que outro tipo de música interessava Rodgers? Afinal foi ele quem levou mais longe a aproximação que se faz entre o musical e a ópera. Seguiria ele a evolução deste género erudito? Por essa e outras razões não só releria esta obra com prazer como leria outras sobre Rodgers (a sua autobiografia já está na calha das minhas leituras). Paris, dezembro de 2017 5/5

Fosse (Sam Wasson, 2013)

Uma leitura que me ocupou dois verões, o de 2016 e este. São 700 páginas, incluindo 100 de notas, para dar conta de uma vida dedicada à arte da dança, da coreografia, do teatro, do cinema, e em todas essas áreas Bob Fosse marcou os que com ele trabalharam/viveram e o público amante dessas artes. Fosse tinha dúvidas quanto a ser um artista ou não mas não parou muito para tirar isso a limpo, pois o trabalho não o largava (ou vice-versa). Sam Wasson tem aquele dom dos americanos e ingleses em não recuar perante o objetivo de escrutinar uma vida nos seus mais pequenos pormenores, que são bem vindos particularmente quando o que está em causa é a gestação, sempre complexa e fugidia, de grandes obras como Cabaret, Chicago, Pippin, Lenny, All That Jazz, Sweet Charity... Uma leitura nem sempre fácil mas sempre empolgante. VC 2016 & 2017 (5/5)