Carmen (Ruy Castro, 2005)


Carmen, de Ruy Castro, é um dos melhores livros escritos no Brasil sobre personalidades da música ou do cinema. E Carmen Miranda é um dos brasileiros que mais mereciam um trabalho desta envergadura. Nos anos 30 ela foi a maior cantora brasileira, era muito popular e ao mesmo tempo amada pelos compositores mais exigentes. Ninguém como ela traduzia a brejeirice e a malícia de muitos sambas da época. Era uma enorme intérprete das composições populares mais extrovertidas, mas nunca foi uma cantora de voz extensa. As composições mais líricas não eram o seu forte. Mas as gravações que deixou são um tesouro da cultura brasileira.
Em 1939, com o sucesso retumbante de O que é que a baiana tem?, de Dorival Caymmi, foi convidada pelos americanos a actuar nos Estados Unidos. Nunca mais voltaria a trabalhar com continuidade no Brasil e nunca mais gravou nada de relevante assim que começou a sua carreira americana. Passou a ser então uma genial entertainer no país que levou mais longe este perfil artístico sui generis. Talvez Carmen nunca tenha sido tão impressionante e genial como nos palcos. Na América não foi nem uma grande cantora, nem uma grande atriz, mas durante alguns anos (coincidentes com a segunda guerra) foi um dos artistas mais bem pagos do showbizz.
Para além das gravações de discos no Brasil (anos 30), o outro legado de Carmen que chegou até nós foram os musicais da Fox. Foi uma das rainhas do tecnicolor durante a guerra e a sua presença nos filmes era e é impagável e inacreditável. Lutou muito para não ser reduzida pela máquina de Hollywood a mais uma morena latina (de língua espanhola) histérica e irracional. Propôs e construiu a sua própria máscara, exótica, kitsch e excessiva. Era puro entertainment. Leitura: maio de 2015 Nota: 5/5 BIBLIOTECA